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El Hombre del al Lado | Casa Curutchet

  • Foto do escritor: silioalbor
    silioalbor
  • 8 de fev. de 2016
  • 6 min de leitura

O Filme

Lançamento: 2011

Diretor: Gastón Duprat, Mariano Cohn

Direção de Arte: Lorena Llaneza

Elenco: Rafael Spregelburg, Daniel Aráoz, Eugenia Alonso, Loren Acuña, Inés Budassi, Eugenio Scopel, Valeria Correa

Gênero: Comédia dramática

Nacionalidade: Argentina

Duração: 1h50min


Quando fui ver esse filme no cinema estava meio descrente de a fórmula "filme rodado num único cenário” daria certo na casa Curutchet. Talvez por ser arquiteto, pensei que a casa tem um deslumbre tal que qualquer ficção passada nela seria coadjuvante. Me enganei. A história de El hombre de al lado gira em torno de uma parede. Uma parede que divide dois mundos, duas formas de se vestir, comer, falar e viver. De um lado Leonardo, designer premiado, poliglota, professor e bem-sucedido, mas vai se mostrando um homem prepotente e de caráter fraco, que foge de uma conversa franca, se revelando um covarde. Do outro lado Víctor, vendedor de carros usados, de origens mais humildes, um tanto grosseirão e direto, mas de caráter forte, simpático, verdadeiro.

Victor está fazendo uma reforma na sua casa e decide abrir uma janela para ter um pouco de luz e aí surge o problema: o buraco na parede faz com que os vizinhos tomem conhecimento um do outro. A tensão vai aumentando, clima vai ficando tenso a cada novo fato e uma tragédia parece que ocorrerá a qualquer momento.

Achei muito interessante como o filme nos faz a princípio ficar do lado de Leonardo e achar um absurdo ter a janela na parede, mas conforme a trama avança, vamos perdendo essa convicção. Também gostei da fidelidade ao nosso pano de fundo. Leonardo sempre aparece dentro da casa ou na calçada. Quando atravessa a rua, vemos isso de dentro de casa, e quando sai de casa, sempre está dentro do carro. Ele não contracena com nenhum outro edifício.

O final é realmente surpreendente, e nos põe a pensar nos nossos valores.

Mas de onde veio a ideia do filme? André Duprat, que é arquiteto, foi o roteirista do filme e é irmão de um dos diretores, teve um vizinho invasivo que abriu uma janela na parede de divisa com o argumento de “ter um pouco de sol que sobrava da casa de André”. Pois é, o filme é baseado em fatos reais.

A Obra

Arquiteto:Le Corbusier

Localização real/filme: La Plata, Argentina

Uso real/ filme: Residência e consultório médico (atualmente é a sede do Colégio de Arquitetos de La Plata, que aluga a residência dos herdeiros do Dr. Curutchet)

Residência e escritório de design

Equipe: Amancio Williams, Simón Ungar e Alberto Valdés

Àrea: 345m²

Ano do projeto: 1949





O renomado cirurgião platense, Dr. Pedro Domingo Curutchet, havia tentado sem sucesso contratar um arquiteto argentino para fazer o projeto de sua casa. Interessado em música e arte contemporânea, proprietário de um pequeno avião, Curutchet era o típico homem moderno. Estudava ergonomia, estrutura e a forma de aplicar esses estudos ao desenho do objeto, chegando a criar seus próprios instrumentos cirúrgicos. Como médico, admirava as preocupações de Le Corbusier com a insolação e a higiene. Sendo assim, Curutchet aproveita as constantes viagens de sua irmã Leonor à Paris e entra em contato com Le Corbusier.

O arquiteto vê nessa obra a oportunidade de apresentar uma obra na Argentina, pais para o qual havia feito estudos urbanísticos para a capital Buenos Aires alguns anos antes. A comunicação entre os dois, bem como o envio da planta do terreno, legislação local e fotos do entorno, se dá através de cartas.


– “Vuestro programa: habitación de un médico, es extremadamente seductor (desde el punto de vista social). Vuestro terreno esta bien situado, en buenas condiciones. Por último, habiendo establecido el plan de Buenos Aires en 1938-1939 que está actualmente siendo considerado por el gobierno, estoy interesado en la idea de realizar en su casa una pequeña construcción domestica en la que me gustaría realizar una pequeña obra maestra de simplicidad, de conveniencia y de armonía, siempre dentro de los límites de una construcción extremadamente simple y sin lujos, perfectamente conforme por otra parte con mis hábitos” (Correspondencia de Le Corbusier al Dr. Pedro Curutchet, 1949)


A casa está localizada no eixo cívico de La Plata. A cidade tem uma trama xadrez, mas o lote da casa fica em um trecho inclinado da rua. O terreno se volta para um grande bosque, o que motiva um dos pedidos do cliente: principais áreas da casa com vista para a área verde. Na época do projeto, o lote estava numa zona composta por muitos casarões neoclássicos italianos alinhados com a frente do terreno. Daí vem a característica que eu mais gosto na casa: sua minuciosa inserção no terreno fazendo uma composição harmônica com duas residências vizinhas de características bem diferentes, do lado esquerdo uma casa protomoderna da década de 30, compacta e baixa e recuada do alinhamento frontal, do lado direito uma típica casa que ocupa toda a frente do lote, alinhada a divisa, com fachada de vertente italiana. O arquiteto desenvolve uma fachada predominantemente horizontal, com brises e uma alta laje de cobertura que harmoniza os vizinhos. Na foto abaixo vemos a relação com os vizinhos e no estudo a relação do volume do consultório com a casa mais baixa, e o volume posterior mais alto, conversando com a casa mais alta, assim como a laje que vai buscar elementos do vizinho.

Notem que a laje superior na fachada nao foi executada na mesma altura prevista em projeto e sim um pouco mais baixa.


A casa se divide em dois blocos, obedecendo outro pedido do cliente: consultório independente da casa. O consultório ficou no volume mais baixo de um pavimento sobre pilotis e junto a rua, o que o torna mais público; a residência num volume maior, mais alto, com quatro pavimentos no fundo do lote, numa posição mais privativa. Os volumes são ligados por rampa que fica no pátio central, que tem uma vegetação baixa e uma árvore. A rama parte da porta de entrada e sobe meio nível, onde fica a porta de entrada do volume residencial e volta em sentido a rua, subindo mais meio nível até o consultório. O acesso aos outros pavimentos se dá por uma escada localizada junto ao limite posterior do lote. Nos andares acima, sala e quartos com vista para o bosque e para baixo os serviços.

Mesmo não tendo visto o terreno ao vivo, e conversado apenas por cartas com seu cliente, Dr. Curutchet ficou muito satisfeito com o projeto:


– “Con grandisimo placer he recibido su carta, las fotos y los planos…. La estructura grácil y transparente del edificio, la forma y disposición de los baños y dormitorios, las rampas y la armoniosa continuidad en todo y en particular entre el salón y la terraza-jardin fueron la primicia. Pero después de esa primera impresión, miro y en cada detalle descubro un nuevo interés, un nuevo espejo de diáfana belleza intelectual. Desde ahora comprendo que viviré una nueva vida, y mas adelante espero asimilar plenamente la substancia artística de esta joya arquitectónica que ud. ha creado……se que esta obra quedará como una lección de arte contemporáneo, del arte suyo, de vanguardia, del original espíritu creador. Mi deber será que todos aprovechen esa lección, en beneficio de su propia cultura y en reconocimiento al gran maestro” (correspondencia del Dr. Pedro Curutchet a Le Corbusier,1949)


Para tocar a obra, Le Corbusier listou vários arquitetos argentinos e Curutchet escolheu Amancio Williams, que cuidou da obra até 1952 passando o comando para Simón Ungar, que ficou até 1953. Alberto Valdez finalizou a obra e em 1954 Curutchet e sua família se mudaram para a casa onde viveram por anos até que o doutor teve que ir trabalhar em Loberia. Mas se não fosse essa necessidade, me parece que Curutchet não teria saído nunca da casa 320 na Boulevard 53:


-“…La obra es visitada por estudiantes y profesionales…. El público en general va comprendiendo cada vez más esta obra que a muchos les pareció tan extraña al principio. Esta es “la casa de Le Corbusier”; me honra ser el propietario. Así lo digo y quiero que se repita. Ud. Puede hacer cualquier indicación que será cumplida y agradecida. Es y seguirá siendo su casa” (Correspondencia del Dr. Pedro Curutchet a Le Corbusier, 1957)


Le Corbusier

Charles Edouard Jeanneret-Gris foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor franco-suiço que se tornou uma das figuras mais importantes da arquitetura no século XX. Adotou o pseudônimo profissional “Le Corbusier” (o corvo, adaptado do sobrenome de sua bisavó Lecorbésier).

Para o arquiteto, o tamanho padrão do homem era 1,83m. Baseado nisso, em números do matemático Fibonacci (1170-1250) e na razão áurea dos gregos antigos, criou uma série de medidas proporcionais, o Modulor, que dividia o corpo humano de forma harmônica e equilibrada. Baseava-se nisso para orientar os seus projetos e suas pinturas.

Veio para o Brasil a convite de Lúcio Costa em 1936, para prestar consultoria no projeto do Palácio Gustavo Capanema. Suas ideias tiveram muita influência sobre a equipe, que além de Lúcio Costa, tinha nomes como Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx. Ainda associado com Oscar Niemeyer, em 1949, Le Corbusier é escolhido como responsável pelo projeto da sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Uma de suas preocupações constantes foi a necessidade de uma nova planificação urbana, mais adequada à vida moderna. Suas ideias tiveram grande repercussão no urbanismo do século 20. Foi o autor do Plano Obus, para reurbanizar Argel, capital da Argélia, e de todo o planejamento urbano de Chandigarh, cidade construída na Índia para ser a capital do Punjab.

Aos 78 anos, Le Corbusier morreu afogado no mar Mediterrâneo. Oito anos antes, havia feito o projeto de seu túmulo, que foi construído imediatamente após a sua morte.


Veja mais em:


http://www.fondationlecorbusier.fr/



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